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Jornal do Centro Acadêmico de Medicina "Dercir Pedro de Oliveira"
Curso de Medicina
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Campus de Três Lagoas (CPTL)

Coisa de Mulherzinha.


Ao pecado do mundo foi dado a uma mulher a responsabilidade. Aos males do mundo, Pandora foi culpada. Bruxas foram queimadas. Mulheres adúlteras foram apedrejadas. Não eram consideradas cidadãs, não tinham direitos civis e não podiam votar.

Em mais de 30 países, mais de 200 milhões de mulheres já tiveram seu clitóris mutilado. Incapazes, sentimentais e sensíveis demais. No metrô, passam-lhe a mão e, por vezes, o órgão sexual. Na rua, assoviam. Na sala de parto, passam o fórceps, o bisturi, a mão, apressam, mandam calar a boca, as violentam.

Na rua ou em qualquer lugar, estupram-lhe. Abortar? Não é possível, é um crime. Dar o filho para a adoção? Inacreditável, quem mandou ser estuprada?

No trabalho, ganham menos pois têm filhos e por dar à luz, são sensíveis demais, incapazes.

Historicamente, a violência contra mulher é uma coisa incrustada, intrínseca e pegajosa. Desde que o mundo é mundo, nascer mulher é uma sentença, é viver na espreita, com medo, sendo sempre uma vítima em potencial. Em casa, na escola, na rua, no trabalho e até no hospital.

Me parece que nem o ato de dar à luz traz-lhe à piedade, as dores não doem nos homens - não são legítimas.

Ser mulher cansa. Ter de falar mais alto e mais vezes para tentar convencer as pessoas da nossa inteligência e capacidade é exaustivo.

Portanto, digo, cada vez que uma mulher sofre qualquer tipo de violência, todas as mulheres morrem um pouco. Lutamos a tanto tempo por uma mudança lenta e mínima, que cansamos. Não sabemos, quiçá imaginamos a sensação de andar em segurança e ter o corpo respeitado. Simone de Beavouir, dizia que se torna mulher. Mas que mulher nos tornamos? Ninguém sabe porque somos assim, a sociedade apenas repete uma cultura violenta sem se questionar. Nós não merecemos ser mulher assim.

Todos os dias são de luta. A violência desejo justiça - dos homens e divina. Nós estamos cansadas, mas ainda não desistimos.


Natália Bueno é aluna da turma 6 do curso de medicina da UFMS-CPTL e responsável pela coluna "Socializando a Pauta", publicação de 22 de julho de 2022.



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