Nise M. da Silveira: a medicina e a revolução política e psiquiátrica em solo brasileiro.

Nise Magalhães da Silveira foi uma médica psiquiatra brasileira alagoana nascida em Maceió, no dia 15 de fevereiro de 1905. Fora aluna do psiquiatra e psicoterapeuta Carl Gustav Jung e uma das grandes representantes da corrente junguiana no Brasil, além de ter alterado o tratamento mental vigente no País.
Filha da pianista Maria Lídia da Silveira e do professor de matemática, também jornalista e diretor do “Jornal de Alagoas”, Faustino Magalhães da Silveira, Nise frequentou o Colégio de freiras Santíssimo Sacramento para formação básica. Ao final dos anos 1920, formou-se em Medicina pela Escola de Cirurgia da Bahia, atual Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), além de se casar, em 1926, com Mário Magalhães da Silveira, sanitarista e seu colega de turma, com conviveu junto até 1986, com o falecimento deste. Ambos decidiram não ter filhos, a fim de que se dedicassem mais à carreira médica. Vale destacar que Nise foi a única mulher de sua
turma de graduação.
Após a morte de seus pais, Nise e Mário mudaram-se para o Rio de Janeiro. Em 1933, Nise concluiu sua especialização em psiquiatria, estagiando na Clínica de Antônio Austregésilo. Aprovada no mesmo ano em um concurso de psiquiatria, começou a trabalhar no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental do Hospital da Praia Vermelha.
De cunho ideológico esquerdista, nos anos 1930, ingressou no Partido Comunista Brasileiro, sendo denunciada e presa (1936) pela posse de livros marxistas, durante a Intentona Comunista vigente no governo Vargas. Ao longo de seus 18 meses de reclusão, dividiu cela com a militante Olga Benário, além de manter contatos com o escritor Graciliano Ramos, o qual a inseriu em seu livro “Memórias do Cárcere”, de 1953. Acabou expulsa do Partido por acusação de seguir as linhas do trotskismo.
Após passar por um período de clandestinidade, foi contratada para o Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Engenho de Dentro, onde se recusou e se posicionou contra as técnicas de tratamento psiquiátricos então vigentes (como eletrochoques, confinamento e uso de camisas de força), considerando serem técnicas agressivas aos pacientes. Criando, de imediato, atrito com colegas de trabalho, foi transferida para a seção de Terapia Ocupacional, área de baixos recursos e totalmente desprezada na época.
Aqui, Nise modifica a maneira de tratar os doentes, dedicando-se a isso por toda a vida. Em vez de alocar os pacientes para funções de limpeza e manutenção, estes foram direcionados a ateliês de pintura e modelagem, criados por ela, visando melhorar o vínculo com a realidade através da expressão simbólica. Nise foi pioneira ao enxergar o valor terapêutico da interação de pacientes com animais, como o cuidado de vira-latas. Os trabalhos artísticos dos internos resultaram na criação do Museu de Imagens do Inconsciente, em 1952. Além disso, Nise criou um Grupo de Estudos sobre Jung (1956), centro de caminhos alternativos aos discursos psíquicos hegemônicos, bem como a
Casa das Palmeiras, instituição pioneira de acolhimento aos
pacientes tidos como “loucos”. Nise foi premiada muitas vezes ao
longo da careira, sendo membro fundadora da Sociedade
Internacional de Expressão Psicopatológica, em Paris.
Nise faleceu aos 94 anos, no Rio de Janeiro, em 30 de outubro de 1999, por conta de insuficiência respiratória aguda ocasionada por pneumonia.
A seguir, constam algumas produções artísticas de pacientes que estiveram sob os cuidados de Nise. As obras não apresentam títulos.

Obra de Octávio Ignácio, de 1975, feita com lápis de cera e grafite. Ele tinha preferência por imagens de simbolismo animal e seres fantásticos | Imagem: Reprodução/CLAUDIA

O quadro de Adelina Gomes, de 1950, com a técnica óleo sobre papel. Além de pintá-las, ela também gostava de fazer flores de papel | Imagem: Reprodução/CLAUDIA

Quadro de Fernando Diniz, de 1953, de tinta óleo e guache sobre papel | Imagem: Reprodução/CLAUDIA
Heitor Yuri Nogara é aluno da Turma VI de Medicina e foi responsável pela coluna de “Personalidades históricas na Saúde”.
Matéria publicada em outubro de 2020, Imagens das obras expostas no site divergem da versão original do texto que está presenta na terceira edição do ComuniCAMDPO.
Imagens retiradas de: https://claudia.abril.com.br/cultura/museu-de-imagens-do-inconsciente/