O tempo de tela na infância

Diante do momento que estamos vivendo, é muito curioso pensar que houve um período em que não existiam celulares, tablets, televisão e computadores. Ultimamente fazemos tudo por meio de eletrônicos, desde lazer até trabalho, em uma relação quase que de dependência. E, por isso, é muito comum que pais permitam o acesso a esses aparelhos por suas crianças, para que elas se distraiam por meio de vídeos e jogos eletrônicos. O problema é que essa exposição tem sido cada vez mais contraindicada por profissionais, e o tempo que as crianças ficam em contato com as telas, muitas vezes, se estende por horas, quando devia ser mínimo.
Primeiro, vamos entender o porquê dessas contraindicações. Basicamente, à medida que os estudos vão avançando (visto que estamos diante de uma problemática recente), comprova-se que existem diversos malefícios associados ao excesso de exposição de crianças e adolescentes às telas. Por exemplo, pode-se citar o aumento dos casos de ansiedade, aumento da irritabilidade, de comportamentos agressivos e violentos, transtornos de sono e alimentação e claros déficits relacionados a sociabilidade. Isso tudo se relaciona ao fato de que as telas são capazes de estimular a liberação de dopamina, um hormônio associado ao prazer, e é daí que surgem os problemas atencionais e sociais. Afinal, o contato frequente com os ambientes online pode gerar falsa sensação de satisfação, ao ponto que essas crianças ou adolescentes acreditam que podem substituir o mundo real pelo virtual sem causar danos às relações humanas.
Ao mesmo tempo, precisamos entender que as crianças precisam ser preparadas para o mundo real, em que é necessário que elas entendam a tecnologia e como os dispositivos eletrônicos podem ser utilizados para fins benéficos (estudos, trabalho, conhecimento, cultura e lazer condizente para a idade). Por isso, é interessante que, a partir de determinada idade, elas tenham contato com os aparelhos. Mas vale destacar que esse contato deve ser muito bem controlado e os conteúdos devem passar sob a supervisão dos pais e responsáveis. Assim, esse processo deve ser gradual e deve seguir alguns critérios.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), crianças abaixo de 1 ano não devem ser expostas a telas. Essa orientação tem como base a preocupação com o sedentarismo. Assim, recomenda-se o uso de dispositivos eletrônicos apenas a partir do segundo ano de vida, mas com o tempo limite de 1 hora diária até os 6 anos de idade. Dos 6 aos 10, esse tempo pode se estender para 2 horas por dia, e dos 11 aos 18 anos, 3 horas por dia, mas nunca durante a madrugada. A partir dos 18 anos, não há exatamente uma limitação de tempo, apenas orientações para evitar telas durante as refeições e, pelo menos, até 2 horas antes de dormir.
Reduzir o contato com as telas não é uma tarefa fácil, mas os pais devem sempre manter em mente que são exemplos para as crianças. Assim, é preciso agir de forma racional, sem se expor às tecnologias de forma exagerada, principalmente na frente dos pequenos. Também é importante sempre se atentar ao tipo de conteúdo que a criança está sendo exposta, cuidando para que não seja inapropriado para sua faixa etária, além de dar preferência a conteúdos que aliam educação e aprendizado. E, por fim, sempre deve-se incentivar atividades fora da bolha tecnológica, uma vez que isso vai gerar repercussões positivas na saúde física, mental e emocional das crianças.
Alice Marçal é aluna da turma VI do Curso de Medicina e foi autora desse texto.
Texto publicado em 27 de outubro de 2022.