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Jornal do Centro Acadêmico de Medicina "Dercir Pedro de Oliveira"
Curso de Medicina
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
Campus de Três Lagoas (CPTL)

ROUND 3: O que se sabe sobre a terceira dose contra a COVID-19

Atualizado: 25 de fev. de 2022


A COVID-19 teve o início de sua disseminação em 31 de dezembro de 2019 e se espalhou pelo mundo até que a Organização Mundial de Saúde declarou pandemia em 11 de março de 2020. Desde então, a doença causada pelo vírus Sars-Cov-2 infectou milhões de pessoas, levando muitas à morte e fez com que todo o mundo iniciasse uma corrida pelas vacinas, na tentativa de reduzir casos graves da doença na população.

A primeira vacina a ser aprovada pela OMS para uso emergencial foi a Pfizer/BioNTech em dezembro de 2020, quase 1 ano após o início da pandemia. Até novembro de 2021, foram aprovadas também pela OMS a AstraZeneca/Oxford, Janssen, Moderna, Serum Institute India, Sinopharm e Sinovac-CoronaVac. No Brasil, tivemos o papel fundamental da CoronaVac, desenvolvida pela SinoVac em parceria com o Instituto Butantan, uma vez que foi a primeira vacina a ser aplicada no país, fora dos testes clínicos. Outras vacinas continuam sendo avaliadas e, conforme as autoridades reguladoras nacionais, são autorizadas para uso em seus países.


Todas as vacinas até então aprovadas pela OMS possuem dose dupla, com exceção da Janssen que é dose única. Após as aplicações, o foco dos estudos tem-se voltado para saber quanto tempo as vacinas garantem a proteção e se doses de reforço são necessárias. Vários estudos têm mostrado que os níveis de anticorpos e a resposta imunológica caem consideravelmente após a dose única ou a segunda dose, podendo variar de 3 a 5 meses, conforme a vacina tomada. Assim, buscando garantir a proteção coletiva e evitar que surjam novas variantes, muitos países iniciaram a terceira dose de vacinação.


O terceiro "round", assim podemos dizer por ser a terceira etapa de vacinação na pandemia por Coronavírus, tem sido marcado persistentemente pela resistência da população brasileira em tomar a terceira dose. Muitas são as "justificativas": medo das reações da vacina, falta de estudos sobre efeitos a longo prazo, pautando-se no argumento de que vacinar-se é uma decisão individual. Realmente ainda há pontos sendo estudados quanto às vacinas, no entanto, conhecimentos prévios de vacinas similares e todos os estudos prévios de segurança proporcionam uma alta segurança para a eficácia e segurança das vacinas atuais aprovadas pela OMS.


Outro ponto é que esse "terceiro round" é decisivo para evitar o surgimento de novas variantes. Nesse sentido, esse posicionamento anti-vacina coloca em risco a estabilização da pandemia da COVID-19, uma vez que menos pessoas protegidas e com suas doses em dia resulta em maior circulação do vírus, favorecendo mutações e mudanças em sua conformação, isto é, induzindo o surgimento de variantes que podem ser mais graves e não protegidas pelas vacinas até então desenvolvidas. É nesse sentido que se insere as variantes já detectadas Alfa, Beta, Gama, Delta e, a última detectada, a Ômicron, também chamada de “variante da preocupação” pela OMS, devido sua alta capacidade de transmissão.


Desse modo, convidamos o professor Vinícius de Jesus Rodrigues Neves, médico de família e comunidade, sanitarista, docente do curso de medicina da UFMS-CPTL para responder a algumas perguntas sobre a terceira dose de vacinação contra o vírus Sars-Cov-2. Atualmente, Vinícius Neves trabalha na vigilância epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde da cidade de Três Lagoas e acompanha desde o início todo o panorama pandêmico da cidade.


ComuniCAMDPO: Quanto tempo dura a imunização contra o coronavírus?

Vinícius Neves: Ainda não há um consenso sobre isso. A literatura nos traz um máximo de seis meses se a imunidade for causada pela infecção pelo SARS- CoV-2, mas as previsões são mais pessimistas, em torno de 3 meses; em relação às vacinas, os trabalhos mais recentes sugerem que a imunidade gerada pelas vacinas cai consideravelmente 6 meses após a aplicação da segunda dose ou da vacina de dose única, mas também são fatores ainda em estudo. A idade é um fator determinante no tempo e intensidade da imunidade gerada – quanto mais velha for a pessoa, menos tempo tende a imunidade se manter e a efetividade da vacina é, também, mais baixa.


ComuniCAMDPO: Por que a vacina da gripe é anual, enquanto que a contra o Sars-Cov-2 precisa de novas doses a cada 3-5 meses?

Vinícius Neves: Existe uma tendência de que a vacina contra o SARS-CoV-2 seja também anual, a questão hoje é que vêm ainda surgindo novas variantes e ainda estamos em meio à pandemia. Aliado a isso, a indústria farmacêutica ainda está estudando a melhor estratégia de vacinação, e quanto a isso envolve doses, intervalos, melhores tecnologias, intercâmbio de vacinas, entre outros fatores. O Instituto Butantan, por exemplo, está já em fase 3 de uma vacina brasileira e já anunciaram a intenção de ser dose única junto da vacina da gripe, mas isso ainda não cenas dos próximos capítulos.


ComuniCAMDPO: Qual o perigo de as pessoas adiarem a terceira dose? Além dessas, novas doses serão necessárias?

Vinícius Neves: A questão é não termos certeza de quanto tempo dura a imunidade gerada pelas duas doses anteriores. Adiar a terceira dose pode significar não estar mais com a mesma efetividade da vacina, contaminar-se e desenvolver um quadro mais grave da doença. Além disso, numa situação de menor efetividade das vacinas, se tivermos um grande contingente populacional não vacinado com a terceira dose poderemos ver novamente aumento de número de casos e, por conseguinte, óbitos, incluindo ainda a possibilidade de aparecimento de novas variantes.


ComuniCAMDPO: Qual o embasamento científico para o uso de vacinas diferentes, isto é, para a vacinação heteróloga?

Vinícius Neves: Os dados de efetividade de uso de vacinas diferentes têm sido muito bons, potencializando a efetividade das duas doses de mesma vacina. O que a literatura traz é que diferentes tecnologias induziriam a uma maior produção de anticorpos e, ainda, a partir de identificação de diferentes antígenos, o que contribui inclusive para conseguir conter novas variantes. Em termos de efetividade, porém, aplicação de terceira dose com a mesma marca de vacina também tem trazido resultados bastante promissores.


ComuniCAMDPO: Como combater o argumento daqueles que não querem se vacinar porque dizem que “ainda não há pesquisas e estudos suficientes sobre as vacinas” ?

Vinícius Neves: De fato, os efeitos a longo prazo são desconhecidos, visto que ainda não houve tempo suficiente para acompanhá-los. Há, no entanto, alguns fatores que devem ser considerados: primeiro, a maioria das vacinas que temos utilizado é de tecnologia conhecida, o que nos permite prever acontecimentos a curto, médio e longo prazo; segundo, em geral os efeitos colaterais mais graves são bastante precoces, dificilmente sendo observados efeitos maiores a médio ou longo prazo; terceiro, a vacina já foi aplicada em pelo menos 5 bilhões de pessoas, tendo sido os efeitos colaterais graves bastante raros; por fim, o risco de desenvolver qualquer complicação, especialmente as mais graves, é muito maior se contaminando pelo SARS-CoV-2 do que recebendo a vacina. As vacinas têm sido fiscalizadas com bastante cuidado, várias delas (sejam marcas, sejam lotes) já foram proibidas no Brasil e, as que foram liberadas, têm passado por rígido controle de qualidade, com finalidade se evitar e de se identificar possíveis reações adversas maiores.


A vacinação, junto com as medidas de distanciamento social, higiene das mãos e uso de máscara, é o principal mecanismo de contenção da pandemia pelo Coronavírus. É importante lembrar que a vacinação, no atual contexto epidemiológico, é uma medida coletiva e não individual. Muitos questionam a obrigatoriedade da vacinação no Brasil alegando ser uma decisão individual, mas a vacinação no país é obrigatória desde a criação do programa nacional de imunizações. Isso porque aqueles que não se vacinam podem perder diversos auxílios do governo. Além disso, o direito individual não pode ferir o direito coletivo, alegam estudiosos em saúde coletiva. Dessa maneira, ao não se vacinar e frequentar ambientes fechados você coloca em risco a vida das pessoas e a segurança de saúde nacional, já que aumenta o risco do surgimento de novas variantes. Assim, vacinar-se é fundamental para garantir que continuemos caminhando para o tão esperado fim da pandemia de COVID-19, quem sabe, em 2022.


O texto acima foi baseado em documentos divulgados pela OMS e também por diretrizes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária.


Por: Laura Ramires Silva

Acadêmica do 5° período do curso de Medicina da UFMS Três Lagoas

Instagram: @lauramiress



Matéria extraída da versão em PDF do ComuniCAMDPO. Visualize o jornal na íntegra clicando aqui.


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